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ALISON RODRIGUES: UM ARTISTA DA RESISTÊNCIA E RENOVAÇÃO

ALISON RODRIGUES: UM ARTISTA DA RESISTÊNCIA E RENOVAÇÃO

Infância e reconhecimento artístico

Alison Rodrigues é um mineiro de coração que sempre nutriu uma paixão pela arte e pelo desenho desde a infância. Na sua escola, ele se destacava como o melhor desenhista da turma, conquistando assim cada vez mais inspiração e incentivo para aprimorar suas habilidades artísticas. Esse reconhecimento precoce não apenas elevou sua confiança, mas também atraiu olhares, inclusive do jornal local.

Ainda na infância, Alison destacou-se em um projeto escolar que envolvia a elaboração de quadrinhos. Sua habilidade chamou a atenção não apenas de colegas, mas também do jornal da cidade, evidenciando seu talento promissor.

 

Influências Familiares e Direcionamento Artístico

Residindo por bastante tempo em um sítio, Alison experimentou limitadas opções de lazer em comparação com uma cidade grande. Seus passatempos variavam entre jogar futebol e dedicar-se ao desenho. Embora o futebol fosse sua maior paixão, foi seu pai quem o incentivou a investir mais na arte e nos desenhos, visando permitir que passasse a maior parte do tempo em casa. Tal decisão foi motivada pela crescente periculosidade do local onde morava.

Alison relata que, inicialmente, seus desenhos estavam voltados principalmente para roupas, estilos de moda e marcas famosas, uma vez que esses elementos estavam em alta na época. Esse direcionamento artístico inicial moldou sua expressão criativa, contribuindo para o desenvolvimento de seu estilo único.

 

Realismo e Inspirações na Adolescência

Ao abordar suas motivações e inspirações, Alison rememora o momento marcante em que teve seu primeiro contato com o realismo. Na adolescência, passou a acompanhar um artista especializado nesse estilo por meio do YouTube, despertando seu interesse e levando-o a aprender por meio dos vídeos produzidos por tal artista. Nesse período, Alison destaca como figuras notáveis e personalidades históricas negras desempenharam um papel fundamental como fontes de inspiração para suas obras. Ele ressalta a importância dessas influências no processo de afirmação social desse grupo por meio de suas expressões artísticas. 

Aprofundando-se na importância do realismo em suas artes, Alison recorda momentos significativos do passado, como durante a pandemia do Covid-19, quando começou a comercializar seus projetos artísticos. Esse período foi crucial, pois representou um impulso significativo em sua carreira, em grande parte devido ao apoio recebido de FBC, renomado rapper de Belo Horizonte. FBC desempenhou um papel fundamental ao auxiliar Alison a expandir seu perfil no Twitter e promover ainda mais seus projetos.

 

Catecismo

No contexto da arte realista, Alison destaca que, embora consiga alcançar um nível próximo ao de uma fotografia, ele aspira transcender esse formato. Seu desejo é ir além do mero retrato, buscando transmitir mensagens que envolvam e denunciem principalmente os equívocos históricos perpetrados durante a colonização do Brasil. Nesse ponto, ele ressalta que a história e a arte das comunidades negra e indígena foram apagadas e sobrepostas pela visão portuguesa catequizada.

Toda essa forma de expressão artística é definida por Alison como "CATECISMO", uma arte como forma de resistência histórica. Dessa forma, por meio de intensa pesquisa e estudo, Alison optou por desvincular-se do estilo anterior de suas obras, almejando transmitir uma mensagem engajadora. Ele visa protestar contra os erros passados que persistem até hoje, especialmente durante a colonização, devolvendo à população negra e indígena o valor e a importância que foram subtraídos ao longo do passado escravocrata e racista no Brasil. Suas obras tornam-se, assim, uma forma de resistência contra a descredibilização e marginalização frequentemente imposta a essas comunidades.

 

 

Pintura a Óleo e Estética de Cria

Continuando a abordar suas obras, Alison compartilha sobre o período em que começou a se aventurar na pintura a óleo. Inexperiente, ele carecia das técnicas adequadas de preparo e aplicação, resultando em obras que não atendiam suas ideias, além de gerar desperdício. Diante dessa situação, ele encontrou uma solução criativa ao utilizar partes de um guarda-roupa antigo para suas criações. O artista destaca que essa abordagem, conhecida como "Estética de Cria", não só reflete uma forma única de expressão artística, mas também cria identificação, especialmente entre a comunidade de baixa renda em todo o Brasil. Para ele, essa prática não é apenas sobre criar arte, mas também sobre gerar engajamento e proporcionar um senso de pertencimento para muitas dessas pessoas.

Alison ressalta a importância dessa estética e expressa sua preferência pela arte indigesta em comparação com a arte eurocêntrica renascentista. Para ele, a escolha de uma abordagem mais autêntica e impactante é fundamental, destacando como essa preferência contribui para a construção de uma narrativa artística que reflete suas próprias experiências e perspectivas.

 

 

Conceito de Arte e Influência de Bell Hooks

Quando tenta definir o conceito de arte, Alison enfrenta consideráveis desafios, pois a enxerga como algo que transcende clichês, como a maneira de se expressar no mundo. Nesse momento, ele invoca a autora Bell Hooks, uma feminista negra norte-americana cujos estudos se concentram na discussão sobre raça, gênero e classe. Bell Hooks é autora de um livro que aborda a banalização do amor, apresentando a ideia de que este pode ser tudo ou nada ao mesmo tempo. Alison estabelece um paralelo com essa artista, afirmando que a arte não deve ser reduzida a uma simples definição clichê.

Entretanto, Alison, ao se referir à arte, a define como uma ação política, um ato disruptivo e uma forma de denúncia. Para ele, a arte não deve adotar uma postura conservadora, pois, como mencionado anteriormente, é uma ferramenta para revolucionar e transformar pessoas e sentimentos ao seu redor.

 

Motivações Pessoais e Comunitárias

'Primordialmente, o que me impulsiona na arte é o processo contínuo de aprimoramento, tanto a nível pessoal quanto comunitário.' Esta afirmação de Alison destaca suas motivações fundamentais e aquilo que o inspira no mundo da arte. Ele compartilha que o impulso para progredir na vida, impactar positivamente sua comunidade, beneficiar pessoas próximas e colaborar com outros artistas é o que verdadeiramente o motiva e encoraja a seguir adiante. Alison enfatiza também o desejo de ser lembrado e deixar um legado artístico que resgate e celebre as contribuições de pessoas pretas e indígenas, cujas histórias foram lamentavelmente apagadas dos registros históricos do Brasil contemporâneo.

 

A Jornada Artística de Alison

Alison Rodrigues, é um artista cujas pinceladas contam histórias de resistência e renovação. Desde os primeiros traços na infância até a expressão crua da vida em suas obras, Alisson emerge como um contador de narrativas não contadas.

Entre o "CATECISMO", o realismo que transcende clichês e a arte indigesta, ele tece um fio que conecta passado apagado e futuro promissor. Sua arte, uma melodia de cores e formas, ecoa como um chamado à melhoria contínua, não apenas para si, mas para toda uma comunidade. Nas tintas, ele protesta, desafia a banalização da arte e redefine o papel da criação como uma ação política e disruptiva. Suas motivações, enraizadas na busca por um legado que resgate as histórias esquecidas, revelam um compromisso com a memória e a identidade das comunidades pretas e indígenas do Brasil.

 

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